domingo, 21 de agosto de 2011


Sandra Starling
O desespero de consumir é razão de distúrbios

Caos urbano e consumismo desenfreado
A semana que passou me fez refletir muito sobre o que andamos fazendo com nossas vidas nas cidades. O texto de Acílio Lara Resende me fez atentar para o fato de que não estou mais gostando de ir e vir entre Belo Horizonte e Santa Luzia, dirigindo meu próprio carro, como fazia até pouco tempo atrás.

Morro de medo das motocicletas que nos cortam pela direita e pela esquerda. Só faltam subir no capô e passar por cima. Trocar de pista virou uma tortura. Mas o caos não se cinge às grandes cidades. No início deste ano, fui a Mariana fazer uma palestra e fiquei horrorizada com o trânsito pesadíssimo naquela linda pérola colonial mineira.

Até em Brasília, onde as vias expressas facilitavam o trânsito, a coisa ficou de dar medo. Como há inúmeros cruzamentos fora das famosas tesourinhas, é preciso estar muito atento para não ser trombado pelos carros em alta velocidade. Nas imediações do Palácio da Alvorada, é inacreditável como os carros passam voando, verdadeiros bólidos, ostensivamente violando os avisos de área de segurança, em velocidades no dobro ou triplo do máximo autorizado. Um escracho.

Em artigo publicado em um jornal carioca, li também uma crítica ao presidente Lula por ter dado tantas isenções aos fabricantes de carros e motos, incentivando a compra desmesurada desses bens. Somando-se a isso o fato de que, com a concentração de renda, a maioria dos ricos possui mais carros do que os dedos da própria mão e diante da inexistência de bons modais de transporte de massas, vamos todos contribuindo com a nossa parte para os engarrafamentos no início do trabalho, na hora do almoço, nas saídas e entradas dos colégios, no retorno à casa à noite, depois de estafantes jornadas laborais ou de estudo.

A igualdade social virou essa coisa: todos temos o nosso direito individual à retenção no trânsito, quando deveríamos exigir transporte coletivo de qualidade e ambientalmente adequado. Para todos.

Por isso, ando receosa com o que possa acontecer com esse plano de apoio à indústria nacional. É verdade que o governo teve o cuidado de anunciar que, desta vez, não se trata de facilitar a compra desvairada de automóveis ou motocicletas. Disseram que os subsídios serão destinados à promoção de inovação tecnológica. Será que, pelo menos, substituirão os motores a combustão das motos, altamente poluidores, por modernas baterias elétricas de lítio?

Fico realmente com um pé atrás porque sei como se pode maquiar um produto e fazê-lo passar por coisa nova. E sei também do desejo incontido - e poderia ser de outra forma? - dos que agora, com melhoria de renda, podem pela primeira vez adquirir o status de dono de um carro ou uma moto. Ainda bem que aqui não estamos tendo um desemprego como na Europa: todos têm acompanhado os motins de violência explícita em Londres e outras cidades inglesas. Os analistas apontam: o desespero de consumir, diante do consumismo desenfreado na sociedade inglesa, é a razão dos distúrbios. Sinto medo do futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.