domingo, 21 de agosto de 2011

Sociedade em Formação

21/08/2011ANDRÉA JUSTE
Mulheres bonitas têm menos chances de conseguir emprego 
Para especialistas brasileiras, o que conta mais é a competência


Um estudo de dois economistas israelenses traz más notícias para mulheres consideradas bonitas. Segundo os pesquisadores, as moças que se destacam pela bela aparência têm 30% menos chances de contratação em uma entrevista de emprego.

Para Ze’ev Shtudiner e Bradley J. Ruffle - autores de "Are Good-Looking People More Employable?" ("As Pessoas Bonitas São Mais Empregáveis?") - uma das explicações para o fenômeno seria a inveja que as entrevistadoras - 96% mulheres - sentiria das candidatas. "Outra possível explicação é que mulheres atraentes podem contar com a aparência para crescer e, assim, não fazer uso da inteligência", diz Shtudiner.

Essa possibilidade é vista não somente nas entrevistas, mas no próprio ambiente profissional. A bacharel em direto Cecília Boelsums, 24, diz que sofreu em lugares onde fez estágio, pois era considerada antipática e metida. "Quando a pessoa desistia de fazer cara feia e vinha conversar, ficava tudo bem e ela parava de me julgar pela aparência", diz a jovem, que se considera "nada
fora dos padrões de beleza" e muito esforçada nos estudos e na carreira.

Por outro lado, a boa apresentação parece ser valorizada no mercado de trabalho brasileiro, segundo a publicitária Juliana Penha Gomes, mestre em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

"É um conjunto de fatores estéticos, comportamentais e físicos. Está mais relacionado à adequação ao padrão predominante no mercado do que ao fato de ter nascido bonita, como uma modelo", diz, citando seu estudo "Beleza e Carreira no Brasil - O Significado da Beleza para Jovens Executivas e seu Papel no Mercado de Trabalho".

Foco. Seja o candidato a emprego bonito ou feio, o foco da maioria das empresas brasileiras é a competência do profissional, afirma Míria Ângela Coelho Reis, professora de recrutamento e seleção da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte (FESBH).

Ela ressalta ainda que é ideia ultrapassada associar a beleza feminina à "burrice". De qualquer forma, ela explica que, se a aparência for motivo de problemas em uma entrevista de emprego, a atitude está associada ao despreparo do próprio selecionador. "Ele tem que ser imparcial, fazer análise, mas não pode fazer julgamento da vida privada do profissional", alerta a professora.

Preconceito. A pesquisa israelense pode até mesmo ter um teor preconceituoso, segundo Adriana Prates, presidente da Dasein Executive Search, empresa especializada em recrutamento de executivos. "É uma cultura na qual a beleza feminina é escondida. O Oriente Médio tem restrições à mulher até no trabalho, seja ela bonita ou não", aponta.

Adriana contesta a justificativa de "inveja" do estudo. "As pessoas invejosas têm inveja de tudo, não somente da beleza. A inteligência, perspicácia, presença, são atributos invejados", comenta.

Porém, em alguns casos, as profissionais até preferem que homens sejam seus superiores, segundo a publicitária Juliana. "Todas as entrevistadas relacionaram características negativas, como falsidade e competitividade ao gênero feminino", diz, ressaltando que rivalidade no mercado pode acontecer independentemente do sexo.

A orientação das especialistas é saber a maneira de se comportar em um ambiente profissional. "Existem pessoas que podem erroneamente usar uma aparência indiscreta e provocativa para tentar se beneficiar no trabalho, mas isso é uma distorção enorme", diz Adriana.






MINIENTREVISTA
"Resultados mostram que a beleza distorce o processo de contratação"
Ze`ev Shtudiner
Economista da Ariel University Center (Israel) - Autor do estudo
Como foi possível descobrir que mulheres bonitas têm menos chances de contratação?
Em Israel, o candidato pode escolher se inclui foto no currículo. Mandamos pares de currículos para vagas de emprego. Em cada par, um era sem foto e o outro era quase igual, com foto de um homem ou mulher, atraente ou "sem sal". Surpreendentemente, entre as candidatas mulheres, as sem foto tiveram o maior número de respostas – 22% mais alto do que as "sem sal" e 30% mais alto do que as atraentes.

As entrevistadoras invejam as candidatas? Por quê?
Vários estudos de psicologia demonstram que mulheres são mais suscetíveis à inveja do que os homens. Outra possível explicação é que mulheres atraentes podem contar com a aparência para crescer e, assim, não fazer uso da inteligência. Mas não encontramos algo que sustente essa hipótese.

Quais suas conclusões sobre o estudo?
Mulheres atraentes e "sem sal" deveriam omitir suas fotografias de seus currículos, uma vez que a inclusão reduz as chances de retorno. Nossos resultados mostram que a beleza distorce o processo de contratação. Um comitê de contratação com sexos misturados pode ajudar a suavizar a discriminação da beleza encontrada no estudo. (AJ)


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