domingo, 21 de agosto de 2011


Traficantes tinham plano para matar juiz em Teófilo Otoni
Dois presos em liberdade temporária estudaram a rotina da autoridade

O juiz da 1ª Vara Criminal de Teófilo Otoni, Flávio Prado Kretli, divulgou ontem um plano elaborado por uma quadrilha de traficantes da cidade para assassiná-lo. O esquema foi montado há cerca de 40 dias e desarticulado nesta semana pela Polícia Civil do município no Vale do Mucuri. O caso vem à tona uma semana após a juíza Patrícia Aciolli ser executada com 21 tiros em Niterói (RJ), mesmo após ter pedido proteção judicial.

Segundo Kretli, seis homens de uma facção criminosa detidos no presídio de Teófilo Otoni integravam o esquema. O plano foi encabeçado pelo traficante Jehus Boeque, condenado por Kretli a 18 anos de prisão em junho deste ano por tráfico de drogas. "Durante o julgamento, ele ficou visivelmente irritado no tribunal, mas eu não esperava por isso", comentou o juiz.

O esquema foi descoberto porque um detento transferido do Maranhão ouviu alguns presos combinarem o assassinato. "O advogado desse preso avisou que existia um esquema para me matar e eu acionei o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) e a polícia para pedir proteção", contou. Segundo o desembargador Antônio Armando dos Anjos, da 3ª Câmara Criminal do TJ-MG, o órgão cedeu um agente de segurança para o juiz e sua família durante o processo de investigação da polícia.

O delegado João Augusto, que presidiu o inquérito, disse que dois homens que usufruiriam do benefício de liberdade temporária estudaram a rotina do juiz e os hábitos dele durante várias semanas. "Um deles, que já trabalhou em uma fazenda ao lado da propriedade do juiz, passou vários detalhes, como o horário em que ele chegava em casa, o trajeto de carro que ele fazia para o trabalho", informou. Um promotor da 1ª Vara Criminal que trabalhava com o juiz também teve sua rotina estudada pelos criminosos.

Ainda de acordo com Kretli, diversos magistrados se sentem ameaçados com as falhas de segurança nos locais onde trabalham. "Já vi testemunhas serem coagidas por réus, porque estavam na mesma sala esperando julgamento. Não temos detectores de metal, não controlamos o fluxo de pessoas e isso é um risco", disse.

Para Bruno Terra, presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), a segurança física nos tribunais e fóruns é apenas um detalhe. "Precisamos não só de escoltas e não só de modernização tecnológica nos tribunais, mas de uma legislação que proteja a identidade dos juízes em casos de julgamentos de risco", opinou.

Todos os envolvidos no planejamento do assassinato do juiz serão indiciados por coação no curso de processo e formação de quadrilha. Se condenados, a pena para cada um deles é de, no mínimo, oito anos. Os dois detentos em liberdade temporária perderam o benefício e vão responder pelos mesmos crimes.

Ontem juízes mineiros se reuniram no Forúm Lafayette, em Belo Horizonte, para discutir ações de segurança em relação aos magistrados que atuam no Estado. Os juízes aproveitaram e fizeram um minuto de silêncio em homenagem à juíza assassinada em Niterói. A Amagis não informou se algum juiz mineiro estaria sendo vítima de ameaças, mas reconheceu que a morte de Patrícia expõe as más condições de trabalho e a insegurança para o exercício da função de juiz.
BRASÍLIA
Categoria fará um protesto
Brasília. Em assembleia geral, 70% dos juízes federais votaram por fazer, no próximo dia 21 de setembro, um ato de mobilização em Brasília. O objetivo é pressionar o Congresso a aprovar um projeto (PLC 03/2010) que cria a Polícia Judiciária e um órgão colegiado de juízes para julgar ações do crime organizado.

A votação contou, segundo a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), com a participação de mais de 500 magistrados. No dia da mobilização, mil magistrados caminharão até o Senado e a Câmara para levar suas reivindicações aos presidentes das duas Casas. Em seguida, eles rumam ao Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer o mesmo com o presidente da Corte, ministro Cezar Peluso.

Na pauta da assembleia, os juízes podiam optar entre a mobilização, a greve geral imediata - que teve 24% dos votos - e a continuidade das negociações com o Executivo e o Judiciário - que contou com o aval de 6% dos votantes.

O presidente da Ajufe, Gabriel Wedy, defende que a criação de uma Polícia Judiciária é fundamental para que crimes como o assassinato da juíza Patrícia Acioli, em Niterói, não se repitam. Ele reclama que a Polícia Federal não tem agentes suficientes para dar conta do trabalho. E que o projeto não traria novos gastos para o erário, já que agentes policiais já estão trabalhando nas varas e tribunais de Justiça, mas não atuam como seguranças e, sim, como motoristas, contínuos etc.
MÁFIA DOS CAÇA-NÍQUEIS
Bicheiro encomenda assassinato de magistrado no Rio
Rio de Janeiro. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) confirmou ontem que recebeu denúncia de um plano para matar um juiz que decretou a prisão de policiais ligados à máfia dos caça-níqueis. O juiz ameaçado é Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Bangu, na zona Oeste da capital. A denúncia foi feita na terça-feira, depois do assassinato da juíza Patrícia Acioli, que atuava em São Gonçalo, baleada quando chegava em casa em Niterói, ambas na região metropolitana do Rio.
De braços dados, magistrados e outros manifestantes rodearam o prédio do Fórum do Rio em memória da juíza Patrícia Acioli MARCOS DE PAULA/AGÊNCIA ESTADO
 

Detalhes do plano foram informados ao serviço do Disque-Denúncia, que os repassou a seis órgãos de segurança, de acordo com reportagem publicada ontem no jornal "O Dia". Segundo a denúncia, a morte de Abrahão foi encomendada por Rogério de Andrade, sobrinho do bicheiro Castor de Andrade, que disputa o mercado de caça-níqueis com Fernando Iggnácio, genro do falecido bicheiro.

Andrade teria o apoio de 39 PMs de um mesmo batalhão para cometer o crime. Informações detalhadas sobre o cotidiano do juiz, como o carro que ele usa e o número de policiais que fazem sua escolta, foram repassadas pelo denunciante anônimo. Elas teriam sido repassadas por um serventuário da Justiça contratado pelos responsáveis por executar a morte do juiz. Andrade, assim como Iggnácio, estão foragidos da Justiça.

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